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O Nosso Blog

Marjorie Sá e a arte de rebozo

Rebozo

Falámos com a Marjorie sobre a técnica que dá conforto às mulheres durante a gravidez. Water Rebozo utiliza panos para envolver os corpos em terra ou na água. É uma arte ancestral que praticamos no LiquidZome, e sem dúvida que a Marjorie é a melhor pessoa para explicar exactamente o que é e que benefícios traz.

 

O que é para ti a arte de rebozo na água?

É colo. Esta prática surge nos através da inspiração da mãe que carrega seu filho, no ventre e em água, embrulhado por tecidos musculares, faciais e epidérmico, e fora do ventre, no colo, no seio, braços e universalmente tradicional, por faixas e tecidos, reproduzindo talvez e de alguma forma esta sensação de pertença, molhada e penetrante qual a água nos abraça, dentro de um invólucro de segurança, sentidos e afeto. 

 

É inspirada no rebozo em terra? Costuma ser praticada em terra e na água na mesma sessão?

Certamente inspirado no Rebozo das parteiras, mantemos este nome inclusive em sua homenagem. O Rebozo é o nome centro americano, mas há registros históricos de panos similares usados em todos os continentes para facilitar a mobilidade pélvica e corporal durante o parto, e acolher os ossos e corpos das mães e bebés após o parto. 
Não costumamos fazer ambas as dinâmicas numa mesma sessão, somente nos cursos, em caráter mais didático. Enquanto vivência creio que é bom dar ao corpo tempo para perceber e digerir a experiência em cada ambiente, terra e água, com seu devido tempo e nuances distintas.

 

Water Rebozo tem alguma semelhança com outro estilo de terapia na água, como aguahara, water dance ou liquid flow?
Water rebozo faz um complemento às outras terapêuticas. Na nossa escola Waterdoulas desenvolvemos a prática em dinâmicas coletivas, nas sessões de pares ou casais e no atendimento individual. Cada uma promove uma interação diferente. Coletivamente suportamos o corpo em flutuação, estimulando sua autonomia de movimento e relação com a água, com o rebozo servindo-o de apoio, palco, delimitação. Nas práticas de pares brincamos com as simetrias, tanto há este espaço de sustentação individual como há um espaço de abrigo e abraço, quando tratamos casais ou relativos. Nas sessões individuais já conseguimos incluir a massagem, trabalhando o corpo por partes e integralmente, na superfície e com imersões.
Diria que faz uma ponte entre as terapias aquáticas de movimento e relaxamento profundo e as práticas de renascimento, uma vez que é muito comum nosso corpo acordar as memórias uterinas neste tipo de ambiente e estímulo. O tecido torna-se uma extensão dos braços do terapeuta, um grande ventre, um colo abrangente que tanto contorna e abriga quanto permite expandir e perceber a textura e o tempo da água. 

 

O que é que as grávidas costumam relatar após estas sessões?
Para a gravidez exploramos os apoios pélvicos e lombares, o que proporciona grande conforto na flutuação, por exemplo. O relato costuma ser de relaxamento, restauração, conexão íntima com os movimentos e percepção mais acentuada do bebé.

 

Também se pratica rebozo no parto?
Sim, inclusive na banheira comum ou na piscina de parto levamos o water rebozo para apoiar. Claro que o mais importante é estimular ao longo da gestação, com esta e com outras dinâmicas corporais e subtis, como a água se pode tornar uma aliada da parturiente.  

 

E nos pós-parto?

No pós parto trazemo-o mais em forma de contenção, uma vez que corpo parto é um corpo que se expandiu ao seu limite, no pós a terapêutica é suave, movimento apoiados, envolventes, que ajudam a mãe delimitar seu novo corpo. O rebozo de forma coletiva também nos permite abrir uma grande cama que pode acolher a mãe e bebé em conjunto, ou mesmo somente ela, uma vez que estes pequenos momentos de relaxamento na água, sendo suportada e sentindo-se segura, equivale a uma noite de sono. Também fazemos a prática do fechamento dos ossos na versão aquática.

 

Em termos de benefícios para o processo de gravidez, quais são?
Como disse acima, no que se refere a preparação para o parto o mais importante talvez seja perceber como água é uma potente aliada, que inspira estados mais relaxados, fluidos, que aquece os tecidos, que permite movimento livre de gravidade, e isso tudo ajuda o trabalho de parto, enquanto recurso não farmacológico de alívio a dor. Como em trabalho de parto muitas vezes precisamos de pontos de apoio e segurança, a interface do tecido ajuda nesta situação, de contração, e acolhe o corpo no relaxamento entre as ondas.
Para a gravidez em si focamo-nos no bem estar e relaxamento, os processos terapêuticos tendem a se desenrolar naturalmente a partir daí, seja relativo ao vínculo, medos, relações, memórias, tramas, situações inusitadas. Cada uma vai onde puder, e também cada terapeuta conduz a partir do seu espectro de atuação.
Enquanto terapia aquática concentramos mais no bem estar físico, na mobilidade das articulações, no toque e alongamentos, da leveza e consciência corporal que a água proporciona. Como doula, naturalmente, vou incluir mais as questões relacionadas ao processo gravídico-puerperal dentro do nosso encontro aquático. Porém são dinâmicas distintas e estimulamos ambas enquanto formadoras, ou seja, quem trabalha na terapia aquática aprofunda-se nos temas do corpo grávido e suas necessidades especiais, quem atua com grávidas em outros contextos, incluir dinâmicas aquáticas nos seus serviços.O intuito é a mulher ou casal se sentirem nutridos, relaxados, alegres, unidos ao próprio corpo e seu bebé, creio que são estes os grandes beneficios.

 

É uma terapia aconselhada também para outras situações, que não seja gravidez? 

Com certeza. Para qualquer pessoa. A nível físico é acolhedor para quem tem restrições físicas ou medo de estar na água, dores pélvicas e lombares, traumas de nascimento, situações de luto, mudanças na vida em geral. Também trabalhamos com water rebozo em dinâmicas familiares, com bebés, crianças, idosos e com deficientes físicos e seus cuidadores.

 

Para ti, pessoalmente, o que é a água traz para o nosso corpo, a nossa mente, a nossa vida? 

A água traz vida e permite a nossa comunicação. É uma facilitadora na conexão, na clareza comigo, com as minhas águas internas e com o mundo.  Mas para mim a água não se resume a um agente pacífico, ela também traz agitação, tempestades, muita mobilização emocional.

 

Sentes que ainda há muito para explorar no mundo do Water Rebozo?

Está acontecendo. É lindo de ver. Com a Waterdoulas estamos a todo vapor, desenvolvemos esta pesquisa desde 2017 e finalmente conseguimos lançar agora os primeiros cursos presenciais e também um módulo online. Recebemos sempre um feedback muito positivo e criativo de quem se inspira na nossa prática. Além de testemunhar pelas redes e pelos relatos um interesse crescente, em diversas vertentes terapêuticas e lúdicas, pelo uso dos tecidos na água e multiplicidade de uso e reações que ele provoca. Creio que é um elemento que chegou mesmo para ficar e se tornar um acessório ou mesmo uma ferramenta importante.

Neste caminho sentimos imensa alegria pelo pioneirismo em apresentar esta prática de forma organizada, fazendo esta colagem entre o babywearing, a massagem com panos, o tecido aéreo do circense e principalmente em total reverência aquelas que mais nos inspiraram nesta exploração, as parteiras tradicionais, e por isso manter o Rebozo no nome.

Já começaste a tua aprendizagem no mundo das terapias aquáticas?
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